Puxe a cadeira – conversa que dá crônica

Por Janaína Quitério

Não me lembrava do último convite para uma conversa descompromissada como o que recebi ao me deparar com um cartaz que coloria o final de tarde de sábado na Avenida Paulista: “Quer conversar? Sente-se comigo”. Quem passava por ali, desapertava o passo.

“Oi, desculpe”, temi incomodar a moça, que, sentada sobre uma canga, conversava com mais duas pessoas enquanto segurava uma pasta com desenhos e aquarelas. Quis saber do que se tratava. Fazia caricaturas? Era psicóloga?  Na megalópole paulista, presentear o desconhecido com tempo e espaço para bater papo é tão raro quanto conseguir assento em transporte público no horário de pico.

“É só sentar e conversar”, respondeu a moça, percebendo a minha estranheza. O que eu conversaria com desconhecidos? Alguém, hoje em dia, costuma fazer isso? Protegi-me na armadura invisível de jornalista e me sentei junto com meus questionamentos: “Pessoas param aqui, mesmo? Do que falam? Por que falam? Já choraram? Já houve algum dia em que você ficou sozinha?

Não consegui me pôr na conversa. Em compensação, em uma hora, Mariana Schettino, 22 – a capixaba que criou o projeto há quase seis meses – contou histórias pessoais de sua família, de sonhos, de dificuldades, falou sobre a troca gratuita de diálogos. Riu e trocou sorrisos com quem se interessava pelo projeto. Mostrou as aquarelas que desenha enquanto se dispunha à conversa. Confessou que, em sua Vitória, capital do Espírito Santo, um projeto como esse não emplacaria. “Em cidades pequenas, como Vitória, soaria provinciano um convite à conversa”, jogou na roda o debate.

Ao som do chorinho que nascia do flautista ao lado, transeuntes anônimos paravam para trocar palavras – uma arte em época de redes virtuais. Lembrei-me de meus avós, que colocavam cadeiras em frente de casa para puxar papo com os vizinhos. Costume anacrônico? Não, o projeto “Vamos conversar” mostra que a interação pela interação, o cara a cara, nos faz falta.

Quando Mariana se levantou para ir embora, às 19 horas, parou um rapaz afobado. “Já está indo embora? É que saí do cinema agora e estava louco para conversar sobre o filme”. A conversa ficou para o próximo sábado, a partir das 15 horas, em frente ao prédio do Conjunto Nacional. É só chegar e falar.

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