RE(SIGNIFICAR) a liberdade nas ruas em dias de trevas

Felipe Santos Da Silva, Franca/SP (felipe.stos.sva@gmail.com)

Diante dos últimos acontecimentos políticos ocorridos, se faz necessário rememorar um fato que aconteceu na cidade onde nasci, cresci e vivo até os dias atuais e que me marcou profundamente.

Em minha condição atual, enquanto pertencente à comunidade LGBTTQI+, me vi e me vejo no dever e na obrigação de reivindicar visibilidade em espaços públicos, como: na universidade em que estudo, onde percebo um preconceito velado, mas ainda presente; no ambiente de trabalho, onde identifico que esta minoria é tolerada devido aos desdobramentos econômicos que subjazem o meio comercial; e, claro, nas ruas, onde o ódio, os atos de violência, discriminação, preconceito e intolerância são vivenciados por nós, LGBTTQI+, todos os dias.

Meu relato refere-se a uma manifestação social intitulada Mulheres contra Bolsonaro! Franca/SP, ocorrida no dia 29 de setembro de 2018. O ato político foi mobilizado por integrantes de partidos de esquerda, juntamente com grupos de pessoas que não se sujeitaram às falácias disseminadas pela direita conservadora que insiste em nos calar. Falo nós, incluindo não somente a mim e à comunidade LGBTTQI+, mas também àqueles que são englobados no que a sociedade conservadora, machista, homofóbica, segregadora, excludente define como minorias, como mulheres, negros, indígenas e imigrantes, entre outras categorias que fujam à normatividade que o poderio insiste em deflagrar por meio de seus discursos e atos odiosos de violência e repulsa.

Nesse dia, as ruas da minha cidade, Franca, mas especificamente as Avenidas: Voluntários da Franca; Major Nicácio e, por fim, a Dr Ismael Alonso Y Alonso, sediaram um momento icônico que para sempre ficará guardado em minha memória. O dia em que tivemos a liberdade de ir para as ruas em favor daquilo que acreditamos ser o correto a se fazer, em busca de expressividade, de ocupação de lugares que são nossos por direito enquanto cidadãos brasileiros.

Para acessar alguns álbuns que contém imagens capturadas no dia do evento ocorrido na cidade de Franca/SP ou outras mídias: https://www.facebook.com/events/676568346059478/?active_tab=discussion

Lembro-me que manifestações semelhantes a essa ocorreram no mesmo dia e tiveram alcance mundial, enfatizando a necessidade do exercício não somente pela democracia prevista na constituição, mas em prol da visibilidade. Segundo dados apontados pela mídia, tal movimento teve adesão estimada milhares de pessoas, realizado em cerca de 80 cidades de 24 estados, além de pelo menos 10 países, segundo dados do RFI As vozes do mundo.

Leia mais sobre a repercussão mundial das manifestações ocorridas no dia 29 de setembro de 2018 em: http://br.rfi.fr/franca/20180928-mulheres-vao-ruas-contra-bolsonaro-em-movimento-historico-diz-uma-das-iniciadoras

Para mim, o significado dessa manifestação foi ímpar, pois, no interior, as repercussões de medidas políticas e governamentais se corporificam de maneira tardia quando comparado às regiões metropolitanas. Assim, olhar para as ruas no dia 29 e observar que não estou sozinho, que existem pessoas não somente distantes, de outras cidades, outros estados ou países, mas de onde nasci que estão levantando a bandeira da liberdade democrática, me motivou a seguir acreditando e lutando em favor daquilo que de fato acredito.

Em relação aos acontecimentos, tenebrosos por sinal, que temos presenciado e vivido nos últimos dias, vi a necessidade de buscar forças para seguir em frente e resistir. E olhar para as pessoas que estão comigo nessa luta aqui e agora, me fez recarregar minhas energias e ter a convicção de que, mesmo nesses dias tempestuosos, NÃO DEVEMOS NOS CALAR.


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